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A desesperança e a crise civilizatória no Brasil

A Marsh, consultoria especializada em análise internacional de riscos, em parceria com a BMI Research, publica anualmente seu mapa de risco político. Trata-se de um guia que investiga mais de 200 países ao redor do mundo e cujos resultados são utilizados por investidores internacionais, agências governamentais, organizações da sociedade civil e outros atores que desejam conhecer os riscos intrínsecos a cada potencial Estado-parceiro. Em 2017, um dos países com maior risco político foi o Iêmen.

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O Iêmen é parte do território que no passado abrigou o reino de Sabá, sociedade matrilinear diversas vezes mencionada no Antigo Testamento e no Alcorão. Hoje, o Iêmen é um dos países mais pobres do mundo e, desde 2011, vive uma intensa guerra civil. Os conflitos no Iêmen começaram no rastro da Primavera Árabe, quando rebeldes enfrentaram o ditador Ali Abdullah Saleh, deposto em 2012 e posteriormente assassinado. Desde então, os partidários de Saleh e seus opositores vivem uma guerra fraticida, apoiados respectivamente pelo Irão e pela Arábia Saudita.

Segundo dados da ONU, publicados em 2017, mais de 10 mil pessoas foram assassinadas no Iêmen entre 2011 e 2016, perfazendo uma média de 02 mil assassinatos por ano. Esta guerra, praticamente esquecida pela comunidade internacional, vem trazendo dor e sofrimento a milhares de pessoas. Recentemente o subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, o britânico Marc Lowcock, declarou que o Iêmen vive a pior crise de fome que o mundo vem assistindo nas últimas décadas.

O Brasil não é um país em guerra. Contudo, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, publicados em 2017, mais de 60 mil pessoas foram assassinadas em 2016 no país. Mais de 60 mil, só em 2016! Isto significa que aproximadamente 07 pessoas foram vitimadas por hora no Brasil, um aumento de 3,8% em relação a 2015. Os números de homicídios no Brasil evidenciam uma verdadeira crise civilizacional. Eles são piores do que aqueles registrados em países em franco estado de guerra civil, como o Iêmen ou o Egito, país norte-africano no qual aproximadamente 60 mil assassinatos foram registrados nos últimos 04 anos, com média 15 mil mortes violentas por ano.

Mas por que o Brasil é um país tão violento? Afastando explicações simplistas, parece haver por aqui uma combinação perversa entre desigualdade e corrupção. O Brasil é um dos países mais desiguais do planeta, pontificando, segundo dados da ONU, entre os 10 mais desiguais do mundo contemporâneo. À nossa frente, estão quase sempre Estados-fracassados como Haiti, Botsuana e Lesoto. Por outro lado, o Brasil está entre os cinco países mais corruptos do mundo. Segundo dados do Fórum Econômico Mundial, publicados em 2016, o país é o quarto mais corrupto, atrás apenas de Chade, Bolívia e Venezuela.

Desigualdade e corrupção formam um amálgama perverso que esfacela o tecido social e projeta o país para uma crise civilizacional – ética, moral, jurídica e política – sem precedentes. A combinação destes elementos gera uma forma particular de exclusão: os despossuídos de esperança. Sem esperança, as “pessoas boas” quedam inertes e abrem amplos espaços para que “coisas (muito) ruins” aconteçam. Sem esperança, banalizamos o crime e trivializamos os desmandos, acolhendo os algozes e criminalizando as vítimas. 

Mas a reversão deste quadro é possível e passa necessariamente pela ação combinada da sociedade civil e das instituições estatais. Em nível social, temos que ser intolerantes à corrupção e ao incumprimento das leis. Isto passa necessariamente pela rejeição social dos corruptos, pela castração de nossos ‘pecadilhos’ cotidianos (afinal, gostamos ou não de levar vantagem em tudo?) e por uma maior participação política. Só assim será possível resgatar a ética e a valorizar a moral democrática e republicana. Por outro lado, as instituições do Estado devem cumprir seu papel. Quer no aumento dos investimentos sociais – como saúde, educação e segurança -, quer no combate sistemático à corrupção nos governos federal, estaduais e municipais, as instituições públicas não podem renunciar ao seu papel de trabalhar pelo resgate civilizatório do Brasil.

Por hora, contudo, esta dupla revolução parece longe de acontecer. Por um lado, como revela uma pesquisa publicada pelo Jornal Gazeta do Povo, em 2016, o brasileiro ainda é altamente complacente com práticas como adquirir produtos roubados, oferecer (ou aceitar) suborno e furar filas. A ética e a moral parecem predicados que devem ser sempre relativos aos outros, nunca a nós. Por outro, como se vê na recente liberação dos ex-governadores do Rio de Janeiro, Anthony e Rosinha Garotinho, que, juntamente com outros empresários e políticos corruptos, vão passar as festas de fim de ano se refastelando com o dinheiro tungado ao cidadão-contribuinte, as instituições públicas relutam em punir os poderosos, relegando os rigores da lei aos depauperados e marginalizados. “O rei está nu”! Em meio à sana da desigualdade e da corrupção, a esperança esmaece e a civilidade decai. Até quando?

 

Lier Pires Ferreira. Advogado, professor do Ibmec/RJ e do CP2




 







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