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Duas Pandemias, Uma Reação

16 -12-2020

Afrânio Silva,
Doutor em Sociologia. Professor da UERJ

Passada uma semana do anúncio sobre a vacinação contra a Covid-19 no Reino Unido, o Governo Federal brasileiro continua a manter a mesma política, assentada na protelação e no negacionismo. A estratégia do governo está em afirmar que tudo depende da Anvisa para a aprovação das vacinas, mas, até o momento, nenhuma vacina foi liberada pela agência.

Neste momento de crise sanitária, sem precedentes na história recente do país, é impossível não comparar a pandemia da Covid-19 com a gripe espanhola no início do século passado. Em 1918, quando o navio inglês Demerara, vindo de Lisboa, aportou em vários portos brasileiros, até chegar no Rio de Janeiro, os passageiros desembarcaram com a doença. Naquele momento, a letargia no enfrentamento à doença, a desconfiança de setores da sociedade e o desconforto ante as medidas tomadas para seu enfrentamento já marcariam o contexto do que seria a maior crise sanitária daquele século. Passados 102 anos, poderíamos achar que aprenderíamos com os eventos, mas estávamos extremamente enganados.

Em 1918, as autoridades nacionais ignoraram a realidade da pandemia e pouco fizeram para impedir que a gripe se alastrasse pelo país. O governo Bolsonaro não se cansa de mostrar toda sua falta de empatia e responsabilidade com a saúde e a vida da população. As similaridades nas ações, discursos e na ausência de ação governamental impressionam pela distância temporal e pelo avanço na ciência. O atual governo faz do negacionismo sua principal estratégia, sabotando as medidas adotadas por governadores estaduais e prefeituras e, de fato, sem apresentar uma única proposta séria no campo da saúde pública.

O que nos deixa cada vez mais perplexos, diante do descaso com a crise sanitária, quando revemos os dois momentos, é que o uso do discurso do início do século passado ainda se faz presente. Como, por exemplo, o uso de receitas caseiras para evitar a doença, o discurso anti-ciência, e acusações sobre a “nacionalidade” da doença, com base em ideologias conservadoras e dominação ideológica. Todas essas ideias, difundidas com a ajuda das tecnologias da informação e comunicação, ganharam proporções nunca antes vistas, e seus impactos negativos para as medidas de prevenção e cuidados foram e continuam sendo enormes.

Na última semana, novamente nos deparamos com fatos desoladores, com o anúncio do plano de vacinação do governo federal sem uma data para o início da vacinação, mas apenas a citação vaga sobre o primeiro semestre de 2022. Além disso, a denúncia de uso indevido de nomes de vários pesquisadores na aprovação do plano torna tudo ainda pior. O Ministério da Saúde afirmou que os pesquisadores não têm papel decisório no plano de vacinação, tornando o plano mais uma peça alegórica do governo federal, que passa ao largo de uma ação sustentada cientificamente e sobretudo fundada em um debate democrático e transparente.

Por ironia ou castigo, um evento significativo da gripe espanhola que não se confirma na pandemia da Covid-19 é a morte do presidente eleito Rodrigues Alves, vítima da própria doença, apesar do descaso ter sido prática de seu antecessor.

Parece que cabe aos setores mais progressistas da sociedade civil exigir que o plano de vacinação seja amplo, eficiente e democrático, em sintonia com o que têm sido as ações dos SUS desde a sua criação.




 







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