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O Bolsonarismo

Aurélio Wander Bastos

Dr. em Ciência Política. Professor Emérito da Unirio.

     

No Brasil histórico não existem sinais de movimentos políticos de radicalização a direita. A única reação à direita que teve atuação efetiva foi o integralismo, na virada dos anos 20/30, que, não propriamente, refletia uma liderança pessoal, mas um movimento parafascista de intelectuais e militares, com alguma base popular, onde Plínio Salgado era um símbolo figurativo.

O Getulismo, todavia, tinha um viés autoritário, a partir de 1937, e uma forte e decisiva  inclinação trabalhista, cuja bandeira fora o Partido Trabalhista Brasileiro - PTB, que, historicamente, foi uma forte legenda até 1964, quando entrou em confronto com a revolução militarista (que se estendeu até 1985), vindo a ser partidariamente substituído pelo Partido Democrático Trabalhista - PDT, onde, até seu falecimento, prevaleceu a forte liderança de Leonel Brizola. Esta leitura, efetivamente, demonstra que o trabalhismo histórico no Brasil sempre evoluiu a partir de lidimas e claras lideranças pessoais, o que faltou a João Goulart.

Esta situação, aliás, também ocorre a partir de 1980, cuja  liderança de Lula da Silva foi, e tem sido,  fundamental  ao  Partido dos Trabalhadores – PT, que nasceu sob a forte influência sindicalista em aproximação com os socialistas, que vieram de seus quadros intelectuais e ex- militantes de esquerda, remanescentes da resistência à ditadura dos militares, cujos principais representantes evoluíram das alianças da  2a  Guerra Mundial, no ambiente da Guerra Fria.

Neste  mesmo período, até 1964/68, os partidos de esquerda, o Partido Comunista do Brasil – PCB (criado em 1922)  se transformou, após  profunda cisão (1946), que sucedeu à cassação do Partido no Parlamento, com efeitos idênticos sobre a permanência dos Parlamentares eleitos, onde se destacara a posição de Carlos Prestes (como Senador Federal), pelo Partido Comunista do Brasil - PCdoB. Na virada dos anos 60, mesmo clandestino, se reposicionou eleitoralmente, defendendo uma aliança com o empresariado nacional, o que provocou uma ruptura com os radicais classistas ideologicamente.

A partir de 1968, principalmente, estes ambos partidos passaram por múltiplas divisões internas, mas, em qualquer das circunstâncias, firmaram- se lideranças de extensos comandos políticos ou revolucionários pessoais, o que resultou em trágicas derrotas em ações armadas e na formação de organizações guerrilheiras com a eliminação militar sucessiva.

Por outro lado, neste extenso tempo político (1964/1985), a direita brasileira, salvo o seu compromisso intelectual (e serviçal) com os militares, neste exato momento da história, se desenvolveu em um movimento ideológico de direita ideológica com liderança pessoal carismática, quase sempre reconhecido como liberalismo, deixando este resultado para grupos radicais periféricos que se firmaram, no interior, e  durante os últimos anos, no governo militar, e, após 1985, com a crise  do Estado  militar.

Na passagem destes últimos  30 anos, principalmente após a promulgação da Constituição de 1988, quando radicais de direita, que não tiveram oportunidades no fim do governo militar, sob a liderança de Jair Bolsonaro, que lentamente procurou articular velhos e novos camaradas iniciou a formatação de uma nova e pragmática   ideologia ,reconhecida como  extrema direita extravagante, apoiada num discurso  de costumes e  aliada a lances difamatórios  através de redes sociais  de internet,  reconhecidos como fake news .

Este especial estilo articulado, ficou reconhecido como bolsonarismo, porque possível de vinculação com o discurso obscurantista de J.M. Bolsonaro, presidente eleito em 2018, sem participar de debates, mas apoiado num discurso radical, que não exatamente traduz o discurso ideológico clássico de direita, mas a sua caricatura nazifascista uma prática institucional agressiva e muitas vezes de sentido pessoal ofensivo, contra as próprias práticas democráticas de administração e seu funcionamento. Bolsonaro não é um líder partidário, vinculado a Partido ideológico, ele nem ao menos tem um discurso de direita corrente e se encosta em palavras como Deus, família, propriedade e segurança. O Partido que se lhe deu sustentação para sua campanha de 2022, se coloca como Partido Liberal – PL, onde Bolsonaro é um quadro, na sua liderança, secundário. O seu discurso indica proposições autoritárias, que não é o programa do PL, sobre o qual próprio não tem o comando.

Nesta linha, o bolsonarismo não é uma ideologia, nem mesmo de fato um partido de direita, no máximo um agrupamento de seguidores. Assim, o bolsonarismo é um agrupamento eleitoral, de efeito político do exercício Executivo da Presidência, um agente pessoal, semelhantemente às práticas do fascismo italiano na decadência, de mobilização eleitoral através da distribuição alternativa de recursos públicos com vistas a obter resultados eleitorais com ameaças sucessivas de golpes. Serviram de apoio para estas práticas os recursos do orçamento secreto, os Fundos partidários e eleitoral, o programa de auxílio Brasil e outros atos que viabilizaram, anteriormente, a eleição de deputados e governadores e subsidiaram volume significativo de votos, que ampliaram a votação de cerca 30/40% da votação estável do eleitorado de Bolsonaro. Na sequência, estes percentuais, somados com o antipetismo e a mobilização através do suborno, no seu mais lamentável significado.

Bolsonaro não está preocupado com a derrota por 2 milhões de votos, porque esta não é verdade, mas ele sabe que o seu drama e desespero são os apoios que evoluíram dos programas paralelos, por isto tem que fazer vistas grossas para ações radicais, assim como, tudo  indica, que os já beneficiários dos resultados destas aventuras orçamentárias não querem, ou por cautela, não querem vincular ou fazer uma cobrança institucional retroativa. Para Bolsonaro, todavia, não faturar estes riscos com a movimentação orçamentária seria reconhecer que este segredo do total de seus votos não o elegeram. 

Ele foi muito longe, e não levou, demonstrando que o bolsonarismo não é um fenômeno político, nem ao menos de Direita, mas uma movimentação difamatória de extrema direita, de altos riscos de distribuição aleatória de   recursos públicos, que não lhe permitiram ser reeleito. Bolsonaro não é um líder carismático de um partido, mas de uma fração, no fundo é o trágico resultado de sua postura na Pandemia do coronavírus, da Covid, combinado com o uso do poder político e recursos financeiros de Estado para alcançar resultados eleitorais. O bolsonarismo ainda terá espasmos de combate, mas não sobreviverá. C'est mort.




 







A notícia em Primeiro Lugar

Uma publicação do
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