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Adeus, Alain Tourain

Aurélio Wander Bastos
Professor Emérito da UniRio

 

Morreu Alain Touraine, neste último dia 9 (de junho de 2023), aos 97 anos. O sociólogo (precursor da Sociologia do Trabalho) francês (autor de Sociedade Pós-industrial) especializado na leitura de movimentos e conflitos sociais, se dedicou a compreensão da política brasileira, a partir da convivência com intelectuais nacionais.

Conheci Touraine no Gabinete de Cândido Mendes, UCAM, e o acompanhei em viagem a Brasília, durante o Governo Fernando Henrique Cardoso, de cujo governo fui Secretário Nacional de Direito Econômico-SNDE/MJ. Conversei pessoalmente com Touraine sobre o Brasil e sua leitura desta "abençoada terra de Santa Cruz". Ouvi dele: "a alma da elite brasileira é francesa", possivelmente daquela elite, mas não deixa de ser uma forte observação. Nem tanto em suas palestras, mas em conversas de Petit Comité, não deixava de observar que o projeto assistencial-trabalhista de Lula era uma consequência do projeto social-democrático de FHC, mas observava que se o excesso de FHC foi a aprovação parlamentar, no exercício presidencial, da "reeleição", o excesso de Lula foi alterar o código de convivência parlamentar para votação de leis de interesse Executivo.

Touraine não chegou, mesmo em tempo futuro, a observar que os presidentes eleitos (FHC foi uma exceção) após a Constituição de 1988 (não pelos efeitos políticos de sua esmerada redação geral por Bernardo Cabral, tendo na Presidência Constituinte Ulisses Guimarães, mas pela a legislação eleitoral ainda vigente) foram líderes populistas. A imprensa brasileira prestigiava as opiniões de Alain Touraine até muito recentemente, inclusive colunistas de elevada envergadura, como Merval Pereira, de O Globo. Touraine não deixou de observar que a política brasileira estava resvalando para a Direita, mas não falou sobre a eventual ocorrência de extremismos, a partir da sua evolução Centro-Direita, com líderes populistas, como Collor, e à Centro-Esquerda, como Lula da Silva. Fato final e importante, todavia, é que Touraine, não pode fazer de seus conhecimentos sobre a dinâmica da vida política brasileira, nos anos Bolsonaro, uma leitura que indicasse a reversão punitiva daqueles tantos processados e condenados na Operação Lava-Jato, em relação a denunciadas práticas corruptivas, acompanhada das dificuldades da Gestão Dilma Rousseff, que libertaram, com a interferência hermenêutica do STF, o ex-presidente Lula da Silva, durante o próprio Governo Bolsonaro.

Touraine, ao que se sabe pela imprensa, teve uma clássica leitura política do Brasil, conforme os Manuais, admitindo o avanço à direita no governo Bolsonaro, com a adesão dos militares, o que efetivamente não ocorreu com a consequente  eleição de Lula da Silva, em fins de 2022, ao denunciar, no processo eleitoral, o avanço populismo autoritário de Direita e o crescimento avassalador da pobreza, devido, muito especialmente, aos efeitos sanitários negativos da pandemia e ao radicalismo do Presidente Bolsonaro contra as práticas epidêmicas. Na verdade, a leitura clássica de Touraine, na imprensa, sobre o Brasil, de qualquer forma, não se consolidou, apesar das sucessivas tentativas, até mesmo imediatamente antes e no processo da posse do Presidente Lula, pelas evidências das variáveis endêmicas e a consequente reação isolacionista do Presidente Bolsonaro.

Finalmente, apesar do interregno do Presidente Michel Temer, após o impeachment de Dilma, a sucessiva eleição de Bolsonaro, num quadro de dissensões parlamentares, com cerca de 30 partidos políticos no Parlamento, como na Alemanha da República de Weimer, e pré-nazista, o populismo de esquerda, numa aliança petista com a centro-esquerda, chegou ao poder sem maioria no Parlamento. Infelizmente, não mais temos Alain Touraine para prenunciar as consequências do dilema político brasileiro atual. O Brasil, a Ciência Política e a Sociologia, analistas e jornalistas, se despedem do intelectual francês que compreendeu a alma da elite brasileira.




 







A notícia em Primeiro Lugar

Uma publicação do
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