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O descrédito das Forças Armadas: um legado do governo Bolsonaro

(31/08/2023)
Lier Pires Ferreira
PhD em Direito. Pesquisador do LEPDESP/UERJ

O mês de agosto, popularmente considerado um mês de mau agouro, poderia ter sido marcado pela ampliação dos BRICS, bloco formado orginalmente por Brasil, Rússia, Índia e China, ao qual a África do Sul aderiu em 2011. O ingresso recente de Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes Unidos, Irã e Etiópia é um fato portador de futuro, cujos impactos à hegemonia euro-estadunidense já se fazem sentir. Todavia, questões militares, aqui e alhures, ofuscaram o brilho dos BRICS neste infindável agosto, dominando a pauta política.

No plano externo, eleva-se a morte de Yevgeny Prigozhin, oficialmente confirmada pelo Kremlin após a realização de exames genéticos. O mercenário russo, líder do grupo Wagner, foi uma das 10 pessoas a bordo de uma aeronave particular que saiu de Moscou e caiu no noroeste da cidade, matando todos os seus ocupantes. Por mais que não haja evidências ligando este acidente ao Kremlin, é impossível esquecer que os desafetos de Putin costumam ter vida curta, vindo a morrer de diferentes causas não naturais.

Mas é do ponto de vista interno que a questão militar ganha contornos de requentada tragédia. Afinal, cresce o número de militares envolvidos em crimes de corrupção, tentativas de golpes e outros delitos. Só no caso das joias, além do tenente-coronel Mauro Cid e seu pai, o general Mauro Lorena Cid, são investigados o almirante de esquadra Bento Albuquerque, o contra-almirante Bueno Júnior, o coronel Marcelo Câmara e os tenentes Jairo Silva, Marcos Soeiro, Osmar Crivelatti e Cleiton Holzschuk, todos da Marinha ou do Exército, muitos ainda na ativa. No caso da intentona golpista de 08 de janeiro, já são públicos os nomes de militares como o coronel Adriano Testoni e diferentes oficiais da PM de Brasília/DF, como os coronéis Klepter Rosa, Fábio Vieira, Jorge Naime, Marcelo Rodrigues e Paulo Bezerra, além do major Flávio de Alencar e do tenente Rafael Martins. É uma vergonha!

Há muitos outros militares envolvidos, nestes e noutros crimes, sejam das Forças Armadas (FFAA), sejam das forças auxiliares, isto é, polícias e bombeiros militares. Portanto, inventariar esses nomes seria perda de tempo; mesmo porque já foram publicados na grande imprensa, não havendo, aqui, qualquer nome que não tenha sido massificado pela mídia. Da mesma forma, não se trata de lhes imputar uma condenação a priori, mesmo porque investigados e denunciados não são necessariamente culpados. Mas é evidente que a profusão de militares listados nas páginas policiais é absolutamente danosa a imagem das FFAA.

Historicamente imbricadas na vida política nacional, não raro em golpes de Estado na forma tentada ou consumada, as FFAA, Exército adiante, foram parteiras de uma República sem povo, proclamada por um marechal monarquista, Deodoro da Fonseca, e cuja suposta estabilidade seria de responsabilidade castrense. Não é. A estabilidade da República cabe às forças políticas e sociais, ou seja, aos civis, restando aos militares a defesa da pátria e da soberania nacional contra inimigos externos. Nada mais. As FFAA não são a reserva moral da República, não são padrinhos da pátria e nem os últimos responsáveis pela vida política nacional. Ao contrário! Sempre que as FFAA se imiscuem na política, todos perdem.

O governo Bolsonaro foi visto por muitos militares, inclusive por membros do Alto Comando, que, sim, foram coniventes e lenientes com os atos golpistas de 08 de janeiro, como um retorno triunfal à vida política. Afinal, um ex-capitão foi eleito presidente. Embora tenha sido um mau militar, Bolsonaro foi abraçado pelo “seu” Exército e aclamado por seus pares. Em troca, lhes concedeu lautos aumentos, em especial para os de patente mais alta, bem como os empregou (e aos seus familiares) aos milhares no Executivo Federal; no que, cumpre falar, foi imitado em vários estados, onde militares, policiais e bombeiros foram alocados em diferentes órgãos da administração pública, de secretarias a escolas.

O que lhes pareceu um retorno triunfal à política, contudo, vem se revelando um tiro no pé. A cada dia cresce o número de militares envolvidos em diferentes crimes, fato que macula as FFAA e o próprio país. A delação de Mauro Cid, ora negociada com a Política Federal, tende a catapultar esse número, mas, ainda que novos nomes, tramas e crimes não surjam, o soa improvável, os muitos militares já envolvidos até aqui deixam as FFAA no brejo.

Bolsonaro é nefasto. Como tudo que tocou em sua vida, o anti-Midas deixou as FFAA na lama. Por isso, num contexto de forte descrédito, soa como escárnio a pretensão de novo aumento no soldo, especialmente quando os civis do Executivo estão de pires na mão. José Múcio é uma piada e parece que esses militares gostam muito de dinheiro, não é? Bem, de todo modo, não há dúvida de que há muitos bons militares envergonhados, senão profundamente irritados com a dilapidação do patrimônio moral das forças castrenses, com seu uso político e com o torpe desvio de suas finalidades. A esses, o meu fraterno abraço e a certeza de que o Brasil precisa de militares honrados, menos monetaristas e mais laboriosos, antenados com as novas realidades globais, e que foquem em seus deveres constitucionais. Estamos fartos de picaretas.




 







A notícia em Primeiro Lugar

Uma publicação do
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