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O furacão Milei

Lier Pires Ferreira
PhD em Direito. Pesquisador do LEPDESP/UERJ e do NuBRICS/UFF

27/12/2023


A polarização da vida social é uma realidade autopoiética, onde forças autocentradas calssificam uma disputa político-teológica por corações e mentes. No Brasil, essa polarização é reificada nas figuras de Lula e Bolsonaro, líderes carismáticos que expressam as tensões pendulares entre progressistas e conservadores, que historicamente opõem os que lutam por uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária aos que almejam preservar o status quo.

Algo similar ocorre na Argentina. O furacão Milei é a reposta das elites agrárias, empresariais e militares ao peronismo kirchnerista, resposta esta que aglutina, com as contradições de praxe, jovens desalentados, trabalhadores precarizados, pobres assalariados, funcionários públicos e velhas raposas de direita e centro-direita, como Patrícia Bullrich e Maurício Macri. É uma resposta conservadora, quiçá desesperada e crismada pelas urnas, pela qual os argentinos mostraram com veemência sua reprovação ao governo de Alberto Fernandes. Essa rejeição fermentou uma coalização instável por meio da qual Javier Milei, um verdadeiro outsider, amassou o governista Sérgio Massa, assim como Bolsonaro amassara Haddad em 2018.

Diferente do Brasil, todavia, a Argentina é um tango “a lá Gardel”. A inflação bate 200% ao ano, drama há muito superado no Brasil pelas venturas do Plano Real. Além disso, a economia é altamente indexada, a moeda tem valor pueril, as contas públicas estão aos cacos e os subsídios estatais alcançam quase todos os serviços à população, dos transportes à saúde, da energia aos alimentos. Para piorar, a atividade econômica é pífia e o desemprego somente é relativamente baixo por conta dos governos e dos sindicatos, que absorvem boa parcela da população em idade laboral. Nesta realidade caótica, 40% dos argentinos vivem na faixa de pobreza.

A reposta ao caos tem sido a barbárie, pela qual a pulsão messiânica do deus Mercado foi liberada na forma de fúria, arrogância e desmesura. Histriônico, o furacão Milei impera por decretos de duvidosa constitucionalidade, extirpando direitos trabalhistas, liberando preços, cortando subsídios, subvertendo garantias locatícias, estimulando as exportações e privatizando tudo o que for passível de ser transferido para os particulares, sejam nacionais ou estrangeiros.

Voando sem escalas de uma economia regulada para sua distopia anarcocapitalista, Milei impõe aos argentinos uma terapia de choque que tem tudo para matar os doentes muito antes de vencer a moléstia que os enferma. Não por outro motivo, até aqui os efeitos do seu “Plano Motoserra” têm sido o crescimento da inflação, a desvalorização da moeda, o aumento da crise econômica e o avanço das tensões sociopolíticas, pela via do empobrecimento da população e das crescentes agitações de rua, veias públicas nas quais velhos adversários e neoarrependidos gritam palavras de ordem e batem panelas famélicas, cada vez mais vazias. Neste cenário dantesco, a sombra do autoritarismo volta a pairar sobre a Casa Rosada.

Não é fácil vislumbrar o que está posto no horizonte de “los Hermanos”. No discurso mileiísta, plasmado nos espíritos caninos de Conan e outros seres etéreos, está em curso a reconstrução que levará a Argentina a um destino solar, glorioso, sempre idealizado, nunca alcançado. Será? Se os equívocos do lulopetismo foram o solo fértil no qual o bolsonarismo vicejou, é certo que o fracasso do governo Bolsonaro pavimentou o regresso triunfal de Lula ao poder. Isso irá ocorrer na Argentina? Será o peronismo redentor? Cristina Kirchner irá mimetizar Evita Perón, a “mater dolorosa” dos argentinos? É difícil afirmar. Todavia, se a barbárie é parte integrante da civilização, não há dúvida de que, no rastro de qualquer furacão, morte e destruição precedem à futura ordem, ainda que esta não seja mais do que a nova farsa de velhas tragédias.

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