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Milei e o tempo da crise

Lier Pires Ferreira
PhD em Direito. Professor do Ibmec. Pesquisador do LEPDESP/UERJ e do NuBrics/UFF

O capitalismo é um sistema econômico instável, capaz de produzir riquezas e inovações técnico-científicas em escalas gigantescas, ao mesmo tempo em que concentra renda, marginaliza populações, fragmenta estruturas sociais e semeia sua própria destruição. Sua instabilidade ínsita exige que, em momentos de crise, soluções drásticas sejam adotadas para reconfigurar a ordem e conter as insatisfações sociais. Foi o que aconteceu nos anos 1920 e 1930, quando tivemos a ascensão de regimes autoritários em diversas partes do mundo, como o fascismo, o nazismo e o salazarismo, na Europa, para não mencionar, na baixada sul-americana, o getulismo e o peronismo.

O mesmo está acontecendo hoje. Milei, assim como Trump, Bolsonaro e Orbán, dentre outros, representa um viés distópico, neoconservador, de enfrentamento das mudanças globais em curso. A tecnologia, a produção, o trabalho estão tensionados pelas novas realidades. Os velhos pactos de desenvolvimento e bem-estar foram traídos, jogando o trabalho para a cova rasa da precarização flexível e arrastando as camadas médias para as zonas cinzentas do teletrabalho, da contratação por projetos, da pejotização.

Neste cenário, onde as esquerdas já não oferecem alternativas críveis para a sociedade, irrompem oráculos furiosos para os quais a solução para a crise do capitalismo é aprofundar o próprio capitalismo. É como se o antídoto para um veneno fosse ampliar a dose do próprio veneno… Faz pouco sentido, não é?

Pois bem, essa a foi a aposta dos argentinos. Ao votar massivamente em Milei, jovens, trabalhadores precarizados, baixa oficialidade e outros segmentos vulnerabilizados se juntaram a empresários, militares e outros membros das “elites” para uma aposta de alto risco, afiançada por políticos tradicionais como M. Macri e P. Bullrich. Diante do desgoverno peronista, corrupto e ineficiente, “los hermanos” entregaram o país para um outsider.

Tem tudo para dar errado. Anarcocapitalista, místico e sem base política, Milei chega chutando tudo o que encontra pela frente… chuta a política, a hiperinflação e até o Papa. Com o apoio fantasmagórico de seu falecido cão, Conan, o presidente eleito pretende dolarizar a economia, dinamitar o Banco Central, brigar com Brasil e China, liberar o comércio de armas e órgãos humanos, fechar as organizações nacionais que promovem a ciência e a tecnologia, além, claro, de combater a corrupção e a “política tradicional”.

Em seu plano de governo, ultraliberal, o mercado será o regulador universal da vida. Subsídios, direitos sociolaborais, aposentadorias e pensões, enfim, toda a rede pública de proteção social será mitigada. A educação e a saúde serão reconfiguradas, de modo, que, por exemplo, a escolarização básica das crianças deve deixar de ser obrigatória.

Milei representa uma política de “terra arrasada”. Antes do fim do seu governo, muito daquilo que faz da Argentina um país de razoável padrão social, alta escolarização e muitas conquistas internacionais, como Óscares, Nobéis e, para nosso pesar, Copas do Mundo, estará destruído. A crise social deverá bater forte, frustrando expectativas e desorganizando ainda mais a sociedade. A reação social também será tenaz. Em meio ao caos que se avizinha, com inflação em dólar, greves e muita violência política, pode até ser que Cristina Kirchner ou outro peronista seja chamado para “rearrumar a casa”, como ocorreu no Brasil, onde, após a vaga bolsonarista, Lula retornou à presidência. É dar tempo ao tempo…




 







A notícia em Primeiro Lugar

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