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Comentário acerca de ‘’No olho da tormenta”, do Prof. Lier Pires Ferreira

As observações do Professor Lier colocam luz sobre o momento delicado atravessado pelas relações Brasil-Israel, após as declarações do Presidente Lula em Adis-Abeba, sede da OUA. O palco escolhido para a fala presidencial não   foi, por óbvio, fruto do acaso. A Etiópia se destacou pela luta contra a dominação colonial europeia desde a batalha de Àdua em 1896, ainda que o país somente tenha abolido a escravidão em 1952, mas isso representa outra face desse caleidoscópio da História.

 Em   linhas gerais, concordamos com as colocações do artigo, até porque, em que pese o momento de grande tensão em Gaza seguido ao ataque do Hamas em outubro, não houve modificação na perspectiva de que os dois lados, em algum momento, parecendo muito distante hoje, estarão de certa forma “condenados a   conviver”.

Israel, potência nuclear, ainda que não admita ou rejeite formalmente essa rotulação, e de alto desenvolvimento tecnológico, sabe que não será destruído ou terá seu povo jogado ao mar. Por seu turno, os palestinos apresentam histórico de resistência guardando em sua memória coletiva o trauma da Nakba, ou desastre, termo pelo qual designam a expulsão dos palestinos de suas terras e aldeias iniciado em 15 de maio de 1948, dia seguinte a proclamação do Estado de Israel. Nesse sentido apenas e tão somente uma parcela   da resolução 181 das Nações Unidas se materializava com a criação do novo Estado de Israel, refletindo em sua geografia reivindicações históricas   do povo hebreu.

Do conflito, a   primeira guerra árabe-israelense, resultou a expulsão de mais de 700.000 palestinos contrariando a resolução da ONU da partilha da Palestina em dois Estados e espalhando refugiados pelo mundo árabe. Representa, portanto, o início da Diáspora dos Palestinos.

                Para ser conciso em termos de exemplo de choque de interesses no mundo árabe em relação a causa palestina, vamos lembrar o conflito entre a monarquia Hachemita da Jordania, limitada sua autoridade em nossos dias a   Transjordânia, mas que em 1970 se considerava senhora dos territórios da Cisjordânia, ocupadas pelos israelenses desde a Guerra dos Seis Dias em 1967.

 A rebelião dos refugiados palestinos, grande parte deles vivendo em precários acampamentos desde a Nakba, levou a um choque sangrento com a forças do reino, tendo sido buscada a mediação entre os beligerantes pelo Presidente do Egito, o coronel Nasser.

A situação dos palestinos sob o domínio do Hamas em Gaza, foco da retaliação de Israel, continua a afetar diretamente o Egito, condição por vezes tangenciada nos comentários. O país, caudatário da assistência militar e econômica ocidental, sobretudo norte-americana, tem oscilado entre o poder do fundamentalismo da irmandade muçulmana e o das forças armadas. O eventual deslocamento ou até a realocação de palestinos em território egípcio gera preocupação ao governo do general Al-Sissi.          

Lula, mesmo se considerarmos que a política externa acaba se voltando para objetivos da política interna, pode involuntariamente contribuir para prestigiar Benjamim Nethanyahu, as turras com o Judiciário na tentativa de ampliar poderes como primeiro-ministro e enfrentando acusações de corrupção. Ele, que ocupa o posto de Primeiro -Ministro mais longevo da História de Israel, quer preservar o poder a todo o custo a frente de uma coalizão incluindo partidos de forte apelo religioso.

Sabendo que boa parte da população brasileira desconhece as diferenças de   significado entre antissionismo e antissemitismo, o presidente foi em frente e se autorizou a ver no Holocausto um parâmetro para avaliar a repressão do Estado de Israel ao Hamas, poder dominante na faixa de Gaza e com alta capilaridade junto a população civil. Evidentemente   não há um quantum a ser fixado como limite de destruição no exercício da autodefesa por parte de um Estado soberano, mesmo se levarmos em conta a assimetria do poder do Estado de Israel e aquele do Hamas. O que entra em discussão não é o revide natural á agressão, mas a destinação do uso da força.

Por mais que as ações do Hamas contra a população civil israelense provoquem repulsa, extensiva ao parâmetro adotado, não podemos esquecer que, se a referida organização exerce controle férreo não apenas de natureza política, mas de todos os aspectos da vida cotidiana em Gaza, na região da Cisjordânia grande parte das funções de um Estado moderno se encontra a cargo da Autoridade Nacional Palestina, organização frequentemente esquecida ou minimizada como ator político nas menções ao contexto geopolítico do Oriente Próximo.

Cremos que, na prática, pouco muda num contexto em que a defesa nacional mobiliza consciências e mesmo defensores da convivência entre os povos terão dificuldade de estabelecer aproximação entre eles. Resta a expectativa que a democracia israelense permita a ascensão   de políticos que, sem renunciar à segurança de todos os cidadãos do país, entre eles numerosos árabes, estimule esse intercambio e, na medida do possível, implemente os acordos de paz.

 Afinal o que foi pactuado em Oslo pode abrir espaço para a diminuição das tensões no Oriente Próximo. Negociar não é um passe de mágica, alguns temas permanecem alimentando impasses, a exemplo da criação de um Estado palestino e da possibilidade de sediar sua capital em Jerusalém oriental, tendo em vista que uma das consequências da vitória israelense na Guerra dos Seis Dias foi a proclamação da cidade como capital uma e indivisível do povo judeu.

A instalação de colonos judeus na área da palestina constitui mais outro tema espinhoso, requerendo uma política de Estado, não de   governo, firme e contínua, no sentido de diminuir ao máximo os pontos de atrito entre a duas nações, restando por resolver a tarefa de conter os extremismos de ambas as partes.

Pode-se objetar que a fala do presidente daria margem a que judeus fossem discriminados em toda parte, vítimas inocentes do ódio e preconceitos étnicos e religiosos, mas convém lembrar que um intelectual lucido como Edgar Morin, centenário pensador francês, judeu de origem sefardita, critica não o legítimo exercício da defesa do direito de existência do povo judeu, mas a apropriação dessa prerrogativa para manter Nethanyahu no poder com o intuito de representar endosso automático das ações das forças de Israel

Pelo que se depreende os interesses econômicos, políticos e culturais, por maiores que sejam os malabarismos diplomáticos a serem feitos, tenderão a minimizar o impacto de declarações por mais que se levantem objeções válidas referentes ao seu impacto. Diria mesmo que a evocação dum passado que provoca indignação como o Holocausto, diz mais sobre as razoes de quem o cita do que sobre o período propriamente abordado.




 







A notícia em Primeiro Lugar

Uma publicação do
Instituto Nonato Santos e
VND - Comunicação

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