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A Lagartixa

Acompanhei o sofrimento de um homem chamado Jesus, que tinha como profissão a mesma do pai, a carpintaria humilde, e desde a sua subida ao calvário, certifiquei-me que Ele era inocente. Eram tantos os que por ali passavam, que pelos seus semblantes se podia reconhecer a sua inocência ou a sua culpa. Porém, Neste eu vi que suas asas eram muito longas e estavam prontas para os vôos que se iniciariam logo após serem retirados os cravos das suas mãos e dos seus pés.

Muitos que o seguia vinham envoltos num véu de amargura, como os pássaros ainda implumes em seus ninhos, sem condições de imitar seus pais. Por onde seus pés pisavam, untavam o solo duro, revestidos de pedras, de mosaicos já gastos, pois era o trajeto dos párias, dos expurgos de uma sociedade vil, interessada nos detentores de ilusões e fantasias dos seus cofres, em detrimento de outros que, escravizados, esperam um milagre dos céus.

Acostumada a presenciar inúmeras crucificações por dia, aprendi logo como a vida física é efêmera diante da eternidade do espírito, que como uma faísca, se liberta da roupagem carnal que o reveste.

Ao lhe pregarem na cruz, pensei que seu corpo fosse se partir ao meio, tal era o estado em que ele se encontrava. Sulcos profundos em boa parte das suas costas devido às insistentes chibatadas recebidas. Seus dedos finos, mas diferentes dos que já por ali passaram, estremeceram ao primeiro cravo que lhe perfurou o pulso violentamente. Aqueles homens eram experientes, estavam acostumados ao odioso ofício da crucificação e não se comoviam nem um pouco com os gritos roucos a brotar dos lábios dos supliciados, ao sentirem o espinho de ferro penetrando em sua carne.

A cruz que recebeu seu corpo sentiu suas energias em seu cerne, era como os ventos que costumavam balançar suas frondosas frondes, quando ainda era árvore imergida em seus sonhos primaveris, fazendo-a reviver os dias que o passado guardava em seus evos.

Ele, com os olhos cheios do sangue que escorria de um orifício acima dos olhos, causado pela ponta de um espinho que compunha a coroa sinistra, conseguia ver pouca coisa à sua frente, até que o suspenderam. Pensei que suas mãos e seus pés fossem rasgar, devido ao peso do seu corpo, enquanto fincavam o madeiro no lugar indicado. Notei que Ele respirava ofegante, procurando ar para seus pulmões vazios e não conseguindo encontrá-lo em quantidade suficiente para enchê-los a contendo.

Passados alguns minutos, houve um silencio tão mortal que se podia ouvir os batimentos dos corações apressados dos crucificados, principalmente dos dois companheiros de infortúnio que não se conformavam com a sua sorte. Em dado momento, Jesus levantou um pouco a cabeça ensangüentada, olhou para o céu que permanecia anilado e, pedindo forças para o momento derradeiro que já sabia aproximar-se, notava que a morte já lhes espreitava a vida física, qual caçador a hipnotizar a presa inocente. Nesta fração de segundo, pude ainda ver bem dentro dos seus olhos que Ele sabia que eu o estava observando e, olhando-me, disse-me baixinho:

- Vejo que acompanhaste o meu martírio do início até aqui...

Apressei-me em responder-lhe imediatamente, porque sabia que os seus segundos estavam contados no relógio terreno... as portas celestes já se abriam para receber o retorno do peregrino da luz imperecível, então lhe disse:

- Senhor, me conforma saber que tu és um homem bom. Sinto pelos batimentos do teu coração que tu és a luz que veio ao mundo para iluminar os corações em sombras, o ungüento para os doentes, a calma dos desesperados, o conforto dos aflitos, a falar-lhes de um reino onde todos somos irmãos. Sei também que és o caminho que a humanidade precisa trilhar para vencer suas amarguras...

E não esperando que eu concluísse, falou novamente com a voz entrecortada pelo manto negro da morte, que o enlaçava o corpo exangue:

- Amiga, sei que tu levas um fardo pesado tal, qual o que Eu carreguei durante minha permanência nesta escola. Sei que o mesmo irá acontecer contigo quando chegar o momento de abrir as tuas asas. Por isso, continuas a perseverar no que acreditas seja valioso para tua libertação, porque o espírito um dia será revestido pelo manto da perfeição.

E buscando forças para os últimos monossílabos, balbuciou, partindo o meu coração:

- A finalidade absoluta da vida é a de se vencer as tempestades que costumam desmoronar o que foi construído. Por isso, fui enviado a este mundo para ser a vela que conduzirá a nau humana aos portos seguros do amor...

E sem dizer mais uma palavra, O vi tombar a fronde para nunca mais se levantar. Senti um alívio do meu fardo ante as suas palavras de amor e voltando-me um pouco, avistei inúmeras mulheres chorando copiosamente, não acreditando no que viam. Foi então que uma delas me chamou a atenção, ela estava sendo amparada por um garoto, que a todo custo a detinha. Suas feições era de um anjo que descera para acompanhar o crucificado e foi ai que disse para mim mesma:

- É a sua mãe, só pode ser... porque dizem que os anjos sempre são escolhidos para estas missões!

Depois de muito refletir, continuei a minha caminhada, agora menos penosa, pois algo me ajudava carregar o meu fardo.

Ah... aquele olhar do meigo crucificado... suas últimas palavras se mantinham presas dentro do meu coração e com certeza desabrochariam em forma de pétalas, para me proteger dos espinhos que ainda restavam no meu caminho.




 







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