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A Cruz

 

Recebi o corpo de um homem desfigurado pelos maus tratos recebidos. O chicote o lambera sem nenhuma piedade. Sua fronte estava espetada por uma coroa de espinhos pontiagudos, onde um destes dificultava-lhe a visão tamanha era a profundidade que houvera sido penetrado. Apesar de tudo, em seus olhos não divisei nenhuma tristeza, nenhum rancor e sim muito amor, era, a meu ver, um cordeiro que se dirigira para um sacrifício e não procurava esboçar reação alguma contra a turba que gritava entusiasticamente, ansiosa por colocá-lo em meus braços inertes.

Quando lhe tiraram as vestes ensangüentadas que lhe cobria o corpo exangue, pude ver bem os traços marcantes daquela carcaça humana e pensei comigo mesma: este é diferente de todos os outros, pois mesmo com todos os maus tratos aplicados, seu corpo era como um jardim pronto para fazer germinar quaisquer sementes que viessem a ser lançadas, quebrando-lhes os espinhos, utilizando-se da essência sublime que emanava. Com certeza, após germinarem se transformariam em lindas rosas que enlevariam o mundo com suas pétalas muito macias.

Puseram-lhe em meus braços e o desejo que tive foi de abraçá-lo, de protegê-lo, mas faltavam-me condições para libertá-lo. O mantive em meu regaço como uma mãe a receber seu filho castigado pelas maldades do mundo. Em um esforço, ainda procurei pensar-lhe as feridas sanguinolentas que jorravam em abundância, devido o posicionamento do seu corpo, mas tudo era em vão. Ao primeiro golpe do cravo em sua mão direita, foi como se espetassem o meu coração, tamanha fora a brutalidade do responsável pela crucificação, que, com os olhos injetados de sangue, desviava suas pupilas do cordeiro que se mantinha sereno, sabedor de que os minutos derradeiros estavam contados no relógio do mundo terreno.

Todos assistiam ao tormento daquele crucificado que me impressionara por sua ternura. Mesmo sabendo dos momentos derradeiros que possuía e que as cãibras insuportáveis iriam estalar seu corpo por muitos minutos, içado a mim, pensei que não fosse resistir aos rasgos provocados pelos cravos, nas palmas de suas mãos e cordas aos punhos. Supliquei para que não viesse acontecer a ruptura senão seria um suplicio maior, o que de vez em quando acontecia com os crucificados naquele monte.

Após o último ser crucificado houve, um certo silêncio que envolveu a caveira sinistra. Apenas um dos soldados resmungava algumas palavras de difícil compreensão, mas eu acho que ele queria dizer que achara difíceis as crucificações daquele dia, pois não fora como as outras. Algo diferente se apossara do seu coração e procurava abrir-lhe as portas para um amor diferente que surgia em seus obscuros horizontes. Uma batalha estava a se passar entre o certo e o errado, entre a treva e a escuridão.

De repente, ouvi uma voz entrecortada pela falta de ar. Os pulmões já não atendiam às necessidades da respiração. Assustei-me porque demorei a descobrir de onde provinha e depois de certificar que era de Jesus, descobri o seu nome ouvindo alguns transeuntes pronunciarem com ternura:

- Toda sua vida foi só de amor ao próximo.

Outro dizia:

- Nunca vi alguém amar tanto como Ele amou.

Mesmo espetado pelos espinhos das incompreensões, pude ouvi-lo com o olhar cravado nos de uma mulher que mais parecia um anjo, atenta a captar as suas ultimas palavras:

- Mulher... eis ai o teu filho! - Apontando para um jovem envolto nos ventos das suas inexperiências.

Com os olhos cheios de água, Maria estendeu as suas mãos olhando para o céu suplicando forças para o filho que estava prestes a partir. Logo depois, olhando para o apóstolo que se mantinha ao seu lado, disse Jesus confiando-lhe a missão:

- Filho... eis ai a tua mãe, conforta-a de agora em diante... outros filhos a esperam neste mundo, pois ainda estão crucificados pelos cravos das vacuidades...

E notando que o apóstolo chorava, procurou encurtar as suas palavras, mesmo porque o ar recebido pelos seus pulmões era cada vez mais escasso... olhando para o céu, onde nuvens inquietas iam pra lá e pra cá, como se pressentisse que algo aconteceria e mudaria os passos da humanidade dali pra frente, sussurrou:

- Pai... em tuas mãos entrego o meu Espírito... está tudo consumado, a missão que me deste está cumprida... recebe Pai o teu filho e zela pelos os que ficam...

E expirou...

Senti que algo muito importante era retirado deste mundo e logo os charcos do caminho se multiplicaram, os pântanos se aprofundaram. Vi então seu corpo estremecer, como a suplicar pelo Espírito que partia, guiado pela luz. E como um pássaro, preparava-se para partir e o último suspiro saiu de suas narinas. Pendendo a cabeça, se livrou do veículo físico.

E pensei comigo mesma:

- Os homens são crucificados pelos seus atos impensados e, por isso, continuam içados com facilidades aos cravos dos interesses mesquinhos que os fazem agonizarem perante os dias que estão sempre a abrir seus sorrisos convidativos através de cada alvorecer. Devido à maldade existente ainda dentro de corações que mais se parecem com caveiras sinistras, os bons, os justos, costumam serem vítimas desta tirania.

Estava Ele ali de braços abertos, a cabeça tombada após ter perdoado aqueles que tinham tramado tudo aquilo, até vê-lo içado em meus braços.

 




 







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