Os últimos 40 dias foram exaustivos, entremeados por altos e baixos, emocionantes e até, diria eu, frustrantes pela recorrente decepção com a nossa total falta de entendimento sobre o que está acontecendo ao nosso redor.

Depois de tudo. Depois da eleição. Depois desta eleição, não gostaria de ter nascido em outro país. Acho que ter nascido aqui foi muito bom. Não dá para morrer de tédio. Sempre tem algo que nos incomoda e aí temos motivo para reclamar, criticar e até chutar o pau da barraca. Nos outros cantos é tudo certinho. Fica sem graça. Todos se respeitam. Ninguém rouba ou quem rouba vai preso.

Aqui o cara rouba e ainda vai promovido. Cai para cima. Isso só acontece aqui mesmo. Aqui todos sabem quem faz as falcatruas, a mando de quem e não dá em nada. É o país da permissão. Aqui tudo pode e nada acontece, ou se acontece é tratado em sigilo, pois a lei permite que bandido reconhecido como tal tenha direito a não ter revelado os seus desatinos.

As coisas por aqui são tão absurdas que revelar o que um bandido fez dá direito de resposta e risco de ter gente presa, pois o julgador entendeu que é uma afronta chamar ladrão de ladrão. Acho que ele quer que seja chamado de “seu ladrão”. Deve ser isso.

Mas ainda acho que o país é bom. O país dá, sem nada cobrar, dinheiro todo mês, por exemplo, para que o cidadão tenha condições de comer e beber. É bem verdade que a cada eleição ele ameaça tirar o dinheiro se o beneficiário não votar nele, mas isso é besteira. Ele vota. Mantém o seu sustento e a vida segue tranqüila para ele. Afinal o que é um votinho, uma vez a cada quatro anos? Nada. Absolutamente nada.

Reclamar de quê? Esta tudo bem. O Lobão desistiu de ir embora do país. Quando ele vier aqui, poderemos até ir ao show dele. O Chico Buarque vai continuar compondo e cantando suas belas músicas e como diz o provérbio chinês “e tudo isso passará”. Já passou.