Segundo depoimento de Sol Pessoa prestado sob sigilo ainda no âmbito da Operação Gabinete de Ouro, deflagrada pela Delegacia de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro (Deccor), revela-se as graves suspeitas de um esquema milionário de corrupção que teria funcionado durante a gestão do prefeito Dr. Pessoa (PRD) em Teresina.
De acordo com as investigações, os valores desviados podem ultrapassar R$ 500 milhões, envolvendo contratos de obras, terceirizações e pagamentos a servidores fantasmas.
As revelações começaram após a prisão de um principais alvos da Operação, Suellene Pessoa, conhecida como Sol Pessoa, ex-chefe de gabinete do ex-prefeito.
Ela foi presa na terça-feira (14) junto com mais três investigados, Marcos Almeida, Mauro José e Rafael Ferreira. Sol foi posta em liberdade no último domingo, após cumprimento da prisão preventiva.
Ainda segundo a polícia, Marcos Almeida atuava como operador financeiro de Sol, e a mando dela controlava e indicava terceirizados em diferentes órgãos da Prefeitura de Teresina. Conversas interceptadas entre os dois confirmariam a existência e o funcionamento do esquema.
A Justiça determinou o bloqueio de R$ 75 milhões em bens e o sequestro de imóveis, incluindo uma casa de alto padrão, um apartamento e um terreno, adquiridos, segundo os investigadores, com recursos de origem ilegal.
O depoimento de tremer a cidade
O depoimento em sigilo feito ao delegado Ferdinando Martins, ao qual o MPPI teve acesso, indica que Sol Pessoa não era operadora principal, mas uma intermediária dentro de uma estrutura mais ampla e hierarquizada.
O documento descreve que Samara Conceição, ex-primeira-dama, exercia forte influência sobre as secretarias de Saúde e Educação, coordenando liberações de pagamentos e contratos estratégicos, bem como comandava inúmeras cargos comissionados na folha do município.
A obstrução
O depoimento também cita episódios de obstrução de investigação. Samara Conceição teria enviado pessoas à casa da irmã de Sol Pessoa, em Teresina, para recolher documentos que poderiam comprometê-la nas investigações. Além disso, teria acionado um advogado de sua confiança para tentar contato com Sol na penitenciária, com o objetivo de dissuadi-la de prestar novos esclarecimentos às autoridades.
As malas do Pessoa
Ainda segundo o relato, malas de dinheiro chegavam com frequência à residência oficial do prefeito. Em um dos episódios descritos, Dr. Pessoa teria recebido pessoalmente R$ 10 milhões.
As investigações também apontam o ex-presidente da Eturb, João Pessoa Filho (“Pessoinha”), filho do prefeito, como beneficiário de repasses indiretos via construtoras contratadas pela prefeitura, além de controle sobre a diretoria financeira da Fundação Municipal de Saúde (FMS), além de controle do lixo.
O ex-secretário municipal de Planejamento, João Henrique Sousa, também pode ser arrolado no inquérito. Ele esteve com o ex-prefeito, semana passada, e teria reclamado dele a forma debochada como tratou a sobrinha. O debate aqui fala dos juros dos empréstimos da prefeitura, o que é corroborado pela tentativa de Silvio Mendes de rever esses empréstimos a juros mais baratos.
Também os secretários de Finanças podem ser alvo das investigações, especialmente quando a investigação alcançar os pagamentos dos chamados restos a pagar de fornecedores com créditos a receber no município.
O vice-prefeito Jeová Alencar (Republicanos), que à época era vereador e presidente da câmara, é citado como tendo influência sobre mais de mil cargos comissionados. Isto mostra o poder da Câmara de Vereadores, e o alcance das declarações de Sol Pessoa. O depoimento ainda confirma que a casa de Sol Pessoa teria sido construída por uma empresa indicada pelo Superintendente de Ações Administrativas Descentralizadas (SAAD) Sul, hoje vereador Juca Alves.
Além das suspeitas de rachadinhas e propinas, o material sob sigilo revela que pessoas falecidas e identidades inexistentes constavam na folha de pagamento da Prefeitura de Teresina, caracterizando a presença de servidores fantasmas. Mas, segundo Sol Pessoa, todos os atos foram assinados pelo prefeito, e publicados no Diário Oficial do município, o que, segundo especialistas, exclui a responsabilidade da chefe de gabinete.
A reportagem deixa o espaço aberto para os citados se manifestarem. Até mesmo quem se sinta apenas incomodado pelas informações.
Fonte: Portal AZ