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Pulsão de Morte

26/05/2020

Lier Pires Ferreira,

PhD em Direito. Professor do Ibmec e do CP2

Em seu artigo A destruição como causa do devir, 1912, a psicanalista russa Sabina Spielrein introduziu o termo Pulsão de Morte, a partir de suas observações clínicas sobre o sofrimento vivido por pessoas esquizofrênicas. Posteriormente difundida pelo austríaco Sigmund Freud, a Pulsão de Morte - ou Tânatos - está relacionada a impulsos de segregação, agressão, destruição e aniquilamento, estando em oposição à Pulsão de Vida ou Eros. Na psicanálise, essas pulsões estão sempre em franca tensão, operando simultaneamente na psique humana.

No Brasil, as inclinações de Jair Bolsonaro aos elementos caracterizadores da Pulsão de Morte são há muito conhecidas. Como exemplos, estão algumas de suas frases polêmicas, uma pequena amostra do rosário de sandices que frequentemente chocam o Brasil e o mundo:

“E daí?” [Em abril, quando o número de mortos por Covid-19 no Brasil, hoje beirando os 25.000, ultrapassou o patamar alcançado pela China], 2020; [O coronel Brilhante Ustra, notório torturador brasileiro] “É um herói nacional que evitou que o Brasil caísse naquilo que a esquerda hoje em dia quer”, 2019; “[O policial] entra, resolve o problema e, se matar 10, 15 ou 20, com 10 ou 30 tiros cada um, ele tem que ser condecorado, e não processado”, 2018; “Isso não pode continuar existindo. Tudo é coitadismo. Coitado do negro, coitado da mulher, coitado do gay, coitado do nordestino, coitado do piauiense. Vamos acabar com isso”, 2018; “O filho começa a ficar assim meio gayzinho, leva um couro, ele muda o comportamento dele. Tá certo?”, 2010;  “O erro da ditadura foi torturar e não matar”, 2008;  “Ele [FHC] merecia isso: pau-de-arara. Funciona. Eu sou favorável à tortura. Tu sabe disso. E o povo é favorável a isso também”, 19999.

Muitos de seus opositores dizem que Bolsonaro transborda boçalidades em suas intervenções públicas; mas, sem adentar no campo das adjetivações, cumpre destacar que as falas e ações do capitão-presidente estão muito mais para a psicopatia do que para esquizofrenia. É o que se vê concretamente no contexto da pandemia do coronavírus. Eleito com base em estratégias de guerra híbrida, com fartos recursos às fake news e práticas de desinformação, demonização de adversários e deslegitimação de toda crítica ou desacordo, Bolsonaro teve, na expansão da Covid-19, a oportunidade de elevar-se à condição de um verdadeiro estadista, unindo o país e coordenando estratégias eficazes de combate à pandemia, apartando-se, portanto, de sua trajetória de militar rejeitado pelos próprios pares e parlamentar do baixo-clero. Mas não o fez. Ao contrário!

Em nome de um claro projeto de poder, racionalmente determinado, que, ao seu modo, está rapidamente implantando no Brasil, o presidente tem auxiliado a turbinar a morte de milhares de brasileiros, em particular os mais pobres, produzindo óbitos em série. Hoje, enquanto a mídia debate as ações da Polícia Federal que alcançaram o palácio de governo do Rio de Janeiro e a própria residência pessoal do governador Wilson Witzel, um polêmico ex-aliado do clã Bolsonaro, o país aproxima-se perigosamente da marca de 400.000 infectados e 25.000 mortos. Igualmente, perseguindo desafetos, trocando ministros, desancando funcionários públicos e fixando o caos, a truculência política e o milicianismo como métodos de governo, Bolsonaro também desorganiza a economia, negando, por meio do ministro Paulo Guedes, socorro às micro, pequenas e médias empresas, que, segundo o SEBRAE, respondem por 54% dos empregos formais e 99% das pessoas jurídicas em regular funcionamento no país. Com um só golpe, portanto, Bolsonaro e seus apoiadores ceifam vidas e potencialidades econômicas, atirando o país em um profundo precipício.

Xingando e promovendo ações de alto impacto midiático, como expor a si e aos seus correligionários em manifestações públicas dominicais, deseducando o povo e elidindo os esforços da comunidade médico-científica em preservar a saúde e a vida dos brasileiros, Bolsonaro empreende um projeto autoritário e militarista, conservador e racista, amparado na criminalização da ciência e dos intelectuais, aos quais rejeita, bem como em um nacionalismo oco, uma religiosidade fingida, uma misoginia viril e uma indignação parasitária, que galvaniza adeptos pelo medo, pela brutalização dos sentimentos, pela desesperança e pela total falta de empatia. Um projeto proto-fascista, verdadeiramente fasciobolsonrista, que só poderá ser tensionado e contraposto pela união das forças vivas da sociedade civil, as forças da democracia, das artes, da ciência, do trabalho e da alegria, enfim, as forças do Eros, da vida, sem as quais a Pulsão de Morte bolsonarista destruirá o país. É hora de reagir.

 




 







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