Matheus Alves Inocêncio
15/10/2020
Donald Trump e Jair Messias Bolsonaro têm mais em comum do que simplesmente o discurso de caráter negacionista. Ambos são entusiastas do rompimento institucional, além de dar apoio "velado" a manifestações antidemocráticas. No entanto, o presidente norte-americano está em vantagem quando o assunto são milícias armadas, diferente do nosso representante que mal consegue trazer coesão para o seu grupo ínfimo de militantes de extrema direita, o 300 do Brasil. Uma organização paramilitar que mescla simbologias racistas, fundamentalistas e nacionalistas, tendo como sua principal expoente Sara Fernanda Giromini, uma ex-feminista radical.
Mas como os Estados Unidos podem estar à frente do Brasil na escalda do autoritarismo? Bom, a constituição dos EUA em sua segunda emenda assegura o direito dos cidadãos de possuírem armamentos. Atenção! Não estamos tratando da questão da autodefesa, mas buscando evidenciar que essa prerrogativa constitucional acaba por favorecer grupos que tenham interesses antagônicos à ordem democrática.
Leia o que informa a Folha
“Treze homens foram acusados de planejar, junto a uma milícia, o sequestro da governadora de Michigan, a democrata Gretchen Whitmer”.
De acordo com uma queixa criminal apresentada em um tribunal federal e revelada nesta quinta-feira (8), eles discutiam derrubar o governo e manter Whitmer como refém ao menos até o verão nos EUA.
Muitos deles falaram sobre criar uma sociedade na qual poderiam ser "autossuficientes", e um dos homens disse que queria 200 pessoas para atacar a sede do governo estadual, na cidade de Lansing.
Eles se reuniram durante este verão no hemisfério norte para treinamento com armas de fogo, exercícios de combate e fabricação de explosivos, afirmou o agente especial do FBI Richard J. Trask II.
Em julho, um dos homens disse que o grupo deveria sequestrar Whitmer, uma crítica do presidente americano, Donald Trump, e levá-la a um "lugar seguro" no estado de Wisconsin para um "julgamento".
“Membros da milícia vigiaram a casa de férias da governadora em agosto e em setembro e indicaram que queriam fazê-la refém antes da eleição presidencial, marcada para o dia 3 de novembro”.
A discussão sobre liberdade ganhou um espaço maior durante a pandemia da Covid-19, principalmente pelo fato da gravidade da situação ser refutada sucessivamente por lideranças populistas. A governadora de Michigan, Gretchen Whitmer, ao adotar medidas mais rígidas no estado, acabou por provocar a fúria de grupos extremistas, muitos com a anuência de Donald Trump, um defensor empedernido da autonomia, chegou a pedir liberdade para o Michigan,no dia 17\04\2020.
Ah, o Trump não organizou o sequestro da governadora. Sim, realmente, porém, o seu ataque deliberado à democracia, além de politizar o vírus, acaba por tornar legitimo ações que buscam desestabilizar a ordem constitucional. Assim também fez Bolsonaro quando falou em armar a população, defendendo o seu direito à liberdade contra a "tirania” de governadores e prefeitos. Como podemos esquecer a fatídica reunião ministerial do dia 22 de abril, quando a ministra Damares Alves (Mulher, família e direitos humanos) pediu a prisão de membros do executivo municipal e estadual, o presidente da Caixa econômica federal, Pedro Guimarães, ameaçou pegar em armas para defender o direito de seus familiares furarem o seu isolamento, além do ex-ministro da educação, Abraham Weintraub incentivar a prisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Tudo em nome de preservar sua liberdade. Mas o que significar ser livre?
“Livre, bem livre, é mesmo estar morto, diz o poema liberdade de Carlos Drummond de Andrade”. Talvez seja essa independência que Trump e Bolsonaro acreditem o direito de matar e morrer. Viva à liberdade e seus paradoxos.