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Panela de Pressão

31/01/2024

A Polícia Federal encurrala a família Bolsonaro e aumenta a tensão no clã. 

Lier Pires Ferreira
PhD em Direito. Pesquisador do LEPDESP/UERJ e do NuBRICS/UFF

Os insucessos relativos no campo de batalhas e um certo “cansaço” dos americanos com o conflito russo-ucraniano têm feito diminuir a ajuda financeira e material, que, por meio da OTAN, os EUA empenham aos ucranianos. Como resultado, Vladimir Zelensky já brada aos sete ventos que sem apoio externo a Ucrânia irá capitular. Mas não é apenas no planalto ucraniano que a pressão aumenta. Por aqui, o pânico do clã Bolsonaro é crescente.

Na segunda-feira, 29/01, o vereador Carlos Bolsonaro e aliados foram “visitados” pela PF, que investiga a montagem de uma estrutura paralela de bisbilhotagem ilegal de jornalistas, políticos, magistrados e outros “adversários” do clã. Embora os números ainda não sejam conhecidos, a suspeita dos federais é de que por meio do software israelense First Mile, centenas de pessoas tiveram sua privacidade criminosamente devassada por essa “Abin do mal”, supostamente comandada pelo filho 02. 

Um possível alerta da “visita” da PF talvez tenha sido o mote para que, no domingo, 28/01, Bolsonaro e seus três filhos mais velhos tenham feito uma live, que, visando articular as bases para as eleições municipais de 2024, também serviu como “defesa prévia” em face das investigações já em curso sobre a tal “Abin do mal”. A situação preocupa o clã, que, na defensiva, já articula “queimar” mais um antigo aliado: o general Augusto Heleno.

Tal como fez com outros aliados de primeira hora, como Gustavo Bebiano, Santos Cruz e o próprio Mauro Cid, o mais recente órfão da lealdade do clã, a família Bolsonaro articula “jogar às feras” o desfigurado general, dizendo que, se a tal “Abin do mal” existiu, ela operou sob o comando exclusivo de Heleno. Mas o tiro pode sair pela culatra. Heleno já foi convocado para prestar depoimento à PF no início de fevereiro. Em princípio, o general não deverá sangrar os segredos da vida palaciana. Contudo, se o torniquete apertar, Heleno certamente não ficará na posição de velhaco, ou seja, não irá “tombar” sozinho. 

Heleno pode ser um problema, mas a principal preocupação do clã é com a base aliada do ex-presidente. Qual a razão? Bolsonaro e sua família desconfiavam de tudo e de todos. De Mourão a Sergio Moro, de Valdemar Costa Neto a Arthur Lira e Alexandre de Moraes, todos estavam no radar da família. Mas, afinal, quem foram os alvos da bisbilhotagem ilegal? O que foi levantado? Onde estão essas informações? O buxixo corre solto no Planalto Central e essas questões irão pesar contra o clã, se e quando forem divulgadas.

Ninguém gosta de ser investigado, muito menos em Brasília. Quem foi “arapongado” dificilmente apoiará o ex-presidente em apuros futuros. Ainda que o bolsonarismo renda votos e que os sorrisos continuem diante das câmeras, o ressentimento já bate forte e os que foram ilegalmente investigados devolverão a “trairagem”. Esse é o jogo do poder. Por isso, como Zelensky, o clã depende cada vez mais de apoio externo para não capitular. Todavia, diante da pressão, dificilmente a panela não irá estourar.

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